No momento em que o assunto crack toma conta do noticiário nacional, com a ação da polícia e do poder público nas “cracolândias” da maior cidade do país, uma cena me chama atenção logo as 8h da manhã de uma segunda-feira.
Mais uma vítima do flerte fatal...
Uma mulher loira, não mais do que 25 anos, totalmente destruída. Louca de “pedra” literalmente, ela gesticula para o carro quando estou a caminho do serviço. Tão deprimente quanto a cena de ter que ver o estado que uma jovem, antes tão linda, ficou por causa da droga. Ela foi uma das minhas personagens para uma reportagem especial para a revista Semana On-line, onde pude exercitar o "jornalistar". E os números são alarmantes!
Segundo estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde) são cerca de seis milhões de usuários de drogas no Brasil, uma delas é Cletiane. Eu a conheci jornalistando por aí. Ela ia completar 15 anos na época, e já se gabava de fumar maconha desde os 13. Aliás, seu filme preferido era “Aos 13”. E ela passou a engrossas as estatísticas. Tomei um susto quando eu a revi, seis anos depois. A morena cor de jambo, que lembrava Camila Pitanga ficou para trás.
O rosto se transformou em um emaranhado de “feridas” causadas pelo uso contínuo de álcool e drogas e o corpo que outrora foi lindo, destruiu-se nas gestações não planejadas e nas noites perdidas. O que continuava do mesmo jeito eram a inércia e o desespero da mãe diante de tal quadro. Ela sempre reclamava. “Eu procuro ajudo, mas todo mundo me diz que não pode fazer nada!”.
E eu, que já tive experiência no assunto, sabia que era verdade. É difícil para uma família de viciados tratarem a doença. É difícil para o viciado conseguir sair do círculo vicioso. E tudo é mais difícil ainda quando não se tem conhecimento nem condições financeiras de buscar o melhor tratamento. Com o custo mensal em torno de R$ 5 mil em uma clínica particular, como uma mulher igual a aposentada Sônia poderia bancar o tratamento da filha? Uma pedra de crack custa R$ 5,00 e faz a “fissura” passar.
E quantas meninas e meninos não estão na mesma situação? Correndo riscos, pois segundo estudos 1/3 dos usuários de crack morrem e 85% das mortes são causadas pela violência. Será preciso que a jovem seja mais uma vítima?
Pesquisa realizada em 68 dos 78 municípios de Mato Grosso do Sul mostrou que o consumo do crack está presente em 60 localidades (das 68 pesquisadas).
Em Mato Grosso do Sul o nível do consumo da droga varia entre alto e médio. A região Centro-Oeste é a segunda maior em percentual de cidades com ocorrência do crack com 91% de índice. Em primeiro lugar está a região Sudeste com 93% de ocorrências, a região Sul tem índice de 90%, Nordeste 89% e Norte com menor incidência de ocorrência com 86%. (Fonte: Revista VEJA).
Em Mato Grosso do Sul o nível do consumo da droga varia entre alto e médio. A região Centro-Oeste é a segunda maior em percentual de cidades com ocorrência do crack com 91% de índice. Em primeiro lugar está a região Sudeste com 93% de ocorrências, a região Sul tem índice de 90%, Nordeste 89% e Norte com menor incidência de ocorrência com 86%. (Fonte: Revista VEJA).
E o tempo passa, e percebo que quase nada é feito. Animei-me com alguns esforços políticos como o do deputado Fabio Trad que defende a internação compulsória e está empenhado no assunto, porém ainda vejo muita hipocrisia e falta de informação para discutir o assunto drogas. Vejo inércia do governo estadual e talvez no CAPS um trabalho solitário, mas que precisa ser melhor difundido.
É preciso ir mais além, e a imprensa tem um papel importante nisto. Mostrar além do drama e da violência, mas o uso e abuso de drogas como uma questão de saúde pública. Uma epidemia. A droga não começa de maneira ruim, ela dá prazer ao usuário – seja ele esporádico ou viciado. E é esse prazer que muitos “especialistas” estão esquecendo-se de comentar e debater nas escolas, em casa, na mídia e até mesmo no jornalismo diário. E se preocupam tanto com São Paulo, que esquecem que em Campo Grande também temos nossas cracolândias!
E acreditem, não adianta defender que “viciadinho” tem tudo que morrer ou coisas do tipo. A droga, o vício, não escolhe classe social, intelectual ou moral. Não escolhe raça, nem etnia ou muito menos opção sexual. Ela está ali do lado, e pasme: pode estar dentro da sua casa! E é isso que devemos mais temer e cuidar, pois nessa questão, a conscientização e a educação ainda é o único caminho para conseguirmos acabar com essa praga.
Quem quiser ler a matéria é só acessar: