Eu não sabia o nome dele. De jaleco branco, a bandeja nas mãos, cheia de doces e bolos já denunciava que era um vendedor. Eu estava dentro do carro, comprando um lanche ali na Brilhante. O homem, de "meia idade" já havia sido dispensado por um, mas veio até mim...
Eu abaixei o vidro do carro e dei boa noite. Acredito que um boa noite é essencial como um bom dia. É essencial como um sorriso. Estava super cansada, trabalho, faculdade, problemas, dinheiro, mais trabalho...
Mas ele me mostrou a bandeja de doces e falou os valores das doces. Então ele falou:
-Tem pavê!
Imediatamente a gente lembra da piadinha "é pavê ou pacumê?". Mas meu coração doeu, parecia que ele não sabia sorrir...
Eu não queria doce, realmente eu não queria. Estava faminta, mas já tinha comprado o lanche da noite, queria casa e cama! E então eu olhei para ele e perguntei:
- Quem faz os doces?
Ele respondeu bem tímido
- Minha esposa. É bem feitinho...
Eu falei:
- Olha, eu não queria doce, mas tenho muita consideração por quem trabalha assim, a noite, vendendo. Vou experimentar o pavê.
Ele sorriu. Eu fiquei olhando. O jaleco branco, as mãos calejadas, a pele dolorida, os olhos que pareciam cansados. Uma quinta-feira, quase meia noite. Quanto aquele homem já deveria ter andado? Quais seriam seus problemas? Será que tem alguém doente? Será que aconteceu algo? Estaria ele desempregado?
Essa alma de jornalista que não me deixa ficar sem questionar... Pensei em todas as pessoas que vejo vendendo bombons, flores, panos de prato, uma infinidade de coisas durante a noite. Inclusive crianças... E pensei tanta coisa naqueles segundos em que peguei o pavê...
Então eu vi a atendente da lanchonete e o outro cliente me olhando. Eles também sorriam. Foram R$ 7,00 que saíram da minha carteira. Mas foi um contentamento que entrou em meu coração...
E ele tinha um gostinho bom, gosto de pavê!
(Pode parecer bobo, mas indo embora para casa, pedi a Deus que nunca me deixe perder a empatia...)